Quarta-feira, 06
de maio de 2020
Em carta aberta
divulgada nas redes sociais nesta terça-feira (5), o filho do ator Flávio
Migliaccio, 85, Marcelo Migliaccio, 56, afirmou que irá entrar com processo
contra o Estado do Rio de Janeiro por divulgar imagens do corpo do ator,
encontrado morto em seu sítio em Rio Bonito (RJ) nesta segunda.
As fotos foram
tiradas por dois agentes da polícia militar e divulgadas na web pelos autores,
segundo Migliaccio. "Quanto aos policiais militares que fotografaram com
celular a cena mórbida no quarto do sítio e colocaram a imagem em redes
sociais, o stado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim
a representá-lo", escreveu.
Segundo explica
o advogado da família, Sylvio Guerra, o Estado terá que responder pelas
acusações de violação ao direito de imagem e vilipêndio a cadáver, previsto no
art. 212 do Código Penal.
"Esses
policiais carregam a bandeira do Estado em suas fardas. Além de vilipêndio de
cadáver, elencado no Código Penal, buscaremos em face do Estado, danos causados
pela absurda, abusiva e mórbida divulgação da foto de meu Cliente Flávio
Migliaccio, já falecido, violando sua imagem , o luto da família, amigos e
fãs."
Segundo a
assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar afirmou que
"o comandante do 35ºBPM (Itaboraí) instaurou um procedimento apuratório
para analisar o caso."
O advogado
Sylvio Guerra afirma que caso a indenização seja reconhecida pela Justiça, o
dinheiro será doado pela família do ator. "Foi uma violência, um
desrespeito!"
A morte de
Flávio Migliaccio foi confirmada como suicídio por seu único filho, Marcelo,
segundo quem o pai estava em depressão profunda desde o ano passado. O ator
deixou cartas à família.
Nas várias
novelas que fez na Globo, o ator ficou conhecido por sua atuação, entre outras,
em "Rainha da Sucata", "A Próxima Vítima", "Vila
Madalena", "Senhora do Destino" e "Passione". Pela
última novela de que participou na emissora, "Órfãos da Terra", recebeu
o prêmio de ator de TV do ano da Associação Paulista dos Críticos de Arte, a
APCA.
Um de seus
trabalhos mais recentes de Migliaccio foi no seriado "Tapas &
Beijos", que a Globo exibiu de 2011 a 2015, como seu Chalita, dono de um
restaurante árabe em Copacabana. Sua última aparição profissional foi, no
entanto, no cinema, no longa independente "Jovens Polacas", lançado
no ano passado.
Leia
a carta de Marcelo Migliaccio na íntegra:
"Eu
sabia que o meu pai era muito querido pelo Brasil inteiro. O que eu não fazia
ideia era do quanto eu tinha amigos, pessoas que ontem e hoje se preocuparam em
me dirigir palavras de consolo, de otimismo e de resignação. Ex-colegas de
trabalho, das escolas, da faculdade, dos bairros onde morei e muita gente que
sequer conheço pessoalmente. Essa é a melhor parte desse capítulo.
Meu
pai fez o que fez à nossa revelia. Pegou um táxi e foi para o sítio enquanto eu
cuidava da minha mãe no último domingo. Sem nos avisar, sem se despedir. Ele
sempre me dizia que não aguentava mais viver num mundo como esse e sentir seu
corpo deteriorar-se rapida e irreversivelmente pela idade avançada. Pouco
escutava e enxergava. "Daqui para frente só vai piorar", ele me dizia
enquanto eu buscava todos os argumentos possíveis para lhe mostrar que ainda
havia muita coisa boa reservada para ele. Como o prêmio de melhor ator de
televisão de 2019, que incrivelmente ele ganhou aos 84 anos de idade. Ou como
ver no cinema o documentário sobre sua vida e sua carreira que estamos
preparando para breve.
Mas
meu pai tinha uma inteligência enorme e era difícil demovê-lo de alguma coisa
em que acreditasse. Infelizmente, ele agora é para nós só uma imensa saudade e
lembranças maravilhosas. Lembraças de alguém que me ensinou o que é amar um
ofício. Alguém que me mostrou a magia da criatividade. Me fez ver que a maior
prova de amor que se pode dar a uma pessoa é respeitar suas convicções, suas
decisões, seu jeito de ser e de não ser.
Por
isso hoje respeito o ato de extrema coragem que meu pai teve na madrugada de
ontem, fazendo o que acreditava ser a única coisa a fazer. Tentei impedir de
todas as formas, sofro agora, e sofrerei para sempre, por não ter conseguido,
mas entendo sua decisão.
Agradeço
de coração a todos que me enviaram mensagens. Fizeram um bem enorme a mim e a
ele, onde quer que ele esteja nos esperando.
PS:
Quanto aos policiais militares que fotografaram com celular a cena mórbida no
quarto do sítio e colocaram a imagem em redes sociais, o estado do Rio de
Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim a representá-lo."
180 Graus
Foto reprodução 180 Graus
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