Domingo, 20 de
outubro de 2019
Descrédito e
frustração na política e nas ideologias partidárias têm feito o paraibano ir às
urnas votar em pessoas e não em legendas.
O descrédito e
frustração na política e nas ideologias partidárias têm feito o paraibano ir às
urnas votar em pessoas e não em legendas. A proporção de votos desse tipo para
vereador nos municípios vem caindo, segundo levantamento realizado pelo CORREIO
entre as eleições municipais de 2012 e 2016. Dos 27 partidos que participaram
dos dois pleitos, 17 apresentaram queda na votação de legenda e 13 registraram
queda nas nominais. Com base nos números, especialistas dizem que o excesso de
partidos e a falta de credibilidade da atividade política como um todo leva o
eleitor a votar muito mais em pessoas do que em agremiações partidárias.
Na hora de
votar, o que pesa mais: o partido e sua ideologia, a trajetória pessoal do
candidato, a proximidade, uma indicação de amigo ou um favor trocado?
Geralmente a proximidade com o candidato faz com que o eleitor vote sem levar
em consideração o partido em que o postulante do mandato está filiado.
Para o
cientista político e professor doutor da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Lúcio Flávio, a enorme quantidade de siglas causa uma grande confusão
no eleitorado. “Como a maioria desses partidos não tem identidade ideológica e
não possui um programa partidário sério, termina apenas prejudicando ainda mais
a governabilidade.O excesso de partidos leva o eleitor a votar muito mais em
pessoas do que em agremiações partidárias”, destacou.
Segundo o
professor, esse fenômeno reforça o personalismo e o autoritarismo,
características da tradição política brasileira. Ele destacou ainda que a
facilidade com que se troca de partido é outro fator que reforça o
personalismo. “Para ficarmos apenas num exemplo, o presidente Jair Bolsonaro já
pertenceu a oito partidos diferentes, ao longo da sua vida pública de 30 anos.
E está prestes a abandonar o PSL, sem sofrer nenhuma penalidade”, observou.
Lúcio Flávio
disse ainda que enquanto os políticos forem maior do que os partidos, a
democracia brasileira ficará sujeita a “Salvadores da Pátria”, como Janio
Quadros, Collor de Melo e Jair Bolsonaro. Ele acrescentou dizendo que o sistema
partidário brasileiro é uma verdadeira bagunça. “Temos no país 35 partidos
legalizados e cerca de uma dezena aguardando sua oficialização”, frisou o
professor.
Na Paraíba,
entre os 17 partidos que apresentaram queda no número de votos na legenda estão
o PT com uma média de 63,89% se comparado os pleitos de 2012 e 2016. Também
está na lista outras siglas grandes como o Democratas com 45,91% e o MDB com
32,77%. No ranking das 10 maiores perdas estão ainda o Cidadania com 47,01%, o
PR com 32,02% e o PV com 23,09%.
Entre os que
aumentaram o voto no candidato, ou seja, o voto nominal, estão o PSDB com
10,41%, o Psol com 102, 52%, o PDT com 10,94%, o PSL do presidente Jair
Bolsonaro com 100,31%, o PSB do governador João Azevêdo com 65,09%. Lembrando
que os dois últimos partidos enfrentam uma crise interna faltando um ano para o
processo eleitoral para a escolha de prefeitos e vereadores.
Voto de
legenda cai entre 2012 e 2016
PT 63,89%
PMN 48,99%
Cidadania
47,01%
Democratas
45,91%
PSC 37,44%
PHS 36,32%
MDB 32,77%
PPL 32,23%
PR 32,02%
PV 23,09%
Partidos se
reorganizam
Como forma de
justificar a queda no número de votos em legendas, a presidente estadual do PC
do B, Gregória Benário, disse que a América Latina como um todo tem um
histórico de construção de lideranças, onde a política chega primeiro através
das pessoas e não por meio de um projeto coletivo. E de fato, a grande maioria
acaba fidelizando o voto nas pessoas e não nos projetos de partidos. O que se
percebe é que de fato existe uma grande maioria de eleitores que preferem votar
em pessoas e não no projeto político.
A expectativa
do PC do B, segundo Gregória, é que o eleitor passe a conhecer mais os projetos
políticos dos partidos, as cartas propostas das legendas porque as candidaturas
estão em torno de um projeto. “É preciso evitar situações como as que ocorreram
em 2018 quando foi eleito Jair Bolsonaro por milhares de pessoas que sequer
sabiam de fato o projeto de governo do candidato. Nossa expectativa para 2020 é
que o eleitorado se torne mais consciente e que exerça a cidadania
compreendendo os projetos e propostas que os candidatos carregam com os seus
partidos políticos”, destacou.
Para o
presidente estadual do PT, Jackson Macedo, as legendas de esquerda geralmente
conseguem votação de legenda maior que os da direita. Ele disse que o partido
defende o voto em lista fechada para que as pessoas possam votar no partido.
“Por exemplo, vice tem uma lista para vereador e as pessoas vão votar no 13, no
partido, e dependendo do número de votos que a legenda tiver, vai entrando os
candidatos”, explicou.
Jackson alertou
ainda para a importância do voto de legenda.
“Temos que
trabalhar muito o voto de legenda, principalmente agora com o fim das
coligações proporcionais, vamos usar muito as imagens de Haddad e de Lula
pedindo voto nos candidatos do PT para facilitar o voto de legenda nas cidades.
Essa é uma orientação da Executiva estadual em todos os municípios, a de
trabalhar o voto de legenda nas eleições do próximo ano”, disse Jackson.
A deputada
estadual e vice-presidente estadual do PSDB, Camila Toscano, disse que a
tendência é que o voto em legenda caia cada vez mais. Para ela, os eleitores
passam a votar em pessoas, muitas vezes indicadas por amigos ou até mesmo por
ser próximas do candidato.
A parlamentar
acredita que o alto número nas votações em legendas acontece por erros ou
esquecimento na hora de votar. “Muitas vezes o eleitor chega para votar sem
cola e esquece do número do seu candidato, lembrando apenas do início e vota.
Por isso ainda vemos números altos de votações em legendas, o que tende a cair ainda
mais do que já vem caindo. Por isso, os partidos hoje trabalham muito mais em
nomes conhecidos e mais próximos da população, como lideranças. Essas pessoas
realmente conseguem garantir uma votação expressiva e nominal”, afirmou.
Mudanças
para a eleição de 2020
No caso das
coligações, a mudança que começa a valer na eleição do próximo ano é que os
partidos disputarão individualmente as eleições para Câmaras de Vereadores. O
que passará a contar é a votação de cada legenda. Até as eleições do ano
passado, partidos que formavam coligação para chapas majoritárias (prefeitos,
governadores, presidente) tinham diferentes possibilidades nas proporcionais:
podiam disputar individualmente, aliados em sub-blocos ou totalmente unidos.
A alteração nos
artigos 108 e 109 afeta principalmente os candidatos a vereador e deputado que
são “puxados” para assumir mandatos graças aos recordistas de votos de seus
partidos.
Um dos casos
famosos nas eleições de 2014 foi do deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP),
que teve 1,5 milhão de votos e acabou elegendo outros quatro candidatos do seu
partido. Outro exemplo famoso é o do palhaço Tiririca (PR-SP), que teve mais de
um milhão de votos e “puxou” dois colegas de legenda. Sem o empurrão dos
candidatos recordistas, seus colegas não teriam votos suficientes para se
eleger.
Essa nova regra
introduzida a partir das eleições de 2016 fará com que o tradicional “voto de
legenda”, por meio do qual eleitores escolhem apenas um partido político nas
eleições para deputado federal ou deputado estadual, se torne um mau negócio
para as agremiações.
A partir
daquele ano, independentemente do número de votos de um partido, se os
candidatos dessa legenda não obtiverem um mínimo estipulado para cada cargo,
eles não são eleitos.
Além de cumprir
o papel de impedir que partidos pouco significativos obtenham representação a
partir da votação de outros, o fim das alianças nas proporcionais nas eleições
de 2020 pode fazer com que siglas “grandes” acabem se transformando em pequenas
e deve gerar número recorde de candidaturas aos legislativos.
Portal Correio
Foto: Elza Fiúza/ABr
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