Quarta feira,
16 de outubro de 2019
SÃO PAULO, SP
(FOLHAPRESS) – Se você tem mais de 20 anos, provavelmente vai se lembra do
machão Maçaranduba e suas confidências ao seu “sarado diário”, assim como do
letrado seu Creysson, que tirava dúvidas de português se embaralhando nos
“nómios complicádios”. Ou ainda dos confusos policiais Fucker and Sucker, que
nunca conseguiam sincronizar as suas falas.
Os icônicos personagens
do programa Casseta e Planeta estão de volta, na verdade serão recordados nos
palcos. O elenco original do grupo humorístico, exibido na Globo de 1994 até
2010, se reúne a partir deste mês para uma série de apresentações pelo país,
como parte da comemoração por seus 30 anos de estrada.
“Vai ser quase um
stand-up de cinco, falando do passado, de coisas que aconteceram nessas três
décadas. Vai ter uma homenagem a Bussunda e vamos falar da Maria Paula, a
‘oitava casseta’. Não teremos os personagens no palco, mas vamos falar deles. E
terá música, nossos shows sempre foram muito musicais”, afirma Beto Silva.
Além de Beto, 59, Claudio
Manoel, 60, Helio de La Penã, 60, Hubert Aranha, 59, e Marcelo Madureira, 61
vão participar da turnê Casseta & Planeta Tour 30 Anxs 2019. A única
ausência é a de Reinaldo Figueiredo, 67, que hoje segue carreira de músico na
Companhia Estadual de Jazz, mas também será lembrado nas apresentações, como
Bussunda, que morreu em 2006, vítima de um ataque cardíaco.
O elenco, que se uniu
pela primeira vez no fim da década de 1970, em uma casa de shows carioca, não
se apresentava junto nos palcos desde que o programa Casseta e Planeta passou a
ser semanal, em 1998 -até então, ele era mensal. Mas eles dizem não ter perdido
o jeito ou a paixão pelas apresentações ao vivo.
“Deu um certo nervosismo
[voltar aos palcos], porque faz muito tempo, mas sempre gostei muito de fazer
show. Particularmente, lamentei quando a gente parou com eles. Mas é aquele
negócio, a gente tinha que ter vida, cuidar da família, educar os filhos, ficar
com a mulher. Foi uma opção pensada”, recorda Hubert.
Desde o término do
Casseta e Planeta Urgente!, em 2010, o grupo se uniu novamente em 2012, também
na Globo, para o Casseta e Planeta Vai Fundo, cancelado no mesmo ano. E depois,
em 2016, no canal pago Multishow, para o Procurando Casseta e Planeta. Em 2019,
eles criaram um canal no YouTube para recordar os personagens clássicos da
atração –este ainda no ar.
Foi a partir desse
último encontro que os empresários dos artistas tiveram a ideia da turnê. Foram
em torno de seis meses para escrever novos números, recordando o que foi feito
nesses 30 anos, sem esquecer as adaptações, como a música que citava Zico e
agora vai falar de Neymar, ou o vagabundo do “Rap do Vagabundo”, que virou
youtuber.
“É uma celebração, mas
também uma forma de mostrar que estamos aqui, fazendo nossas piadas. Elas
continuam boas, estamos bem de saúde, fazendo uns tratamentos intensivos,
tomando remédios, treinamentos físicos para aguentar a parada. Mas estamos
gostando muito dessa experiência”, brinca Hubert.
UM
NOVO HUMOR?
Apesar de recordar e
adaptar o mesmo estilo de humor feito décadas atrás, os humoristas do Casseta e
Planeta Urgente reconhecem que, em nove anos, desde o fim do programa na Globo,
muita coisa mudou em relação à comunicação e à concorrência. Para eles, essa
parte é a que vai demandar maior adaptação.
Quando o grupo começou,
diz Hélio de La Peña, eram poucas as opções de programação humorística e apenas
na TV aberta, agora tem rede social e memes: “Tem gente fazendo comédia pelo
IGTV, você tem canais como o Comedy Central, enfim, uma variedade grande para
esse tipo de produção de humor”.
Nesse contexto de
tecnologia, os humoristas se preparam também para uma mudança na forma que
acontece o feedback do público, que era “baixo e indireto” e que agora acontece
de forma imediata, via redes sociais.Segundo eles, isso pode afetar até mesmo o
conteúdo a ser apresentado.
“Antes, o cara teria que
escrever uma carta para a Globo, que encaminharia a mim e eu dificilmente teria
como responder. Demorava, era difícil e as pessoas nem acreditavam que teriam
retorno. Hoje, se o cara não gosta, publica que não gostou, e a conversa entre
artista e consumidor se dá em público”, diz Hélio.
Mas eles afirmam que não
vão se se inibir por causa disso, e farão o humor crítico que sempre fizeram:
“Sempre demos pancadas para todos os lados, humorista não tem lado. O lado é o
da piada”, afirma Beto. “Claro que hoje em dia tem um pessoal que se irrita,
mas a gente não vai devolver dinheiro de quem não gostar”, completa rindo.
Segundo Hélio, se na
hora de montar um quadro o grupo percebe que ele tem mais uma postura de
afirmar um ponto de vista, uma posição política, do que fazer humor, não há
problema em abrir mão. “Nossa intenção é fazer rir, tirar graça de uma
situação”, afirma ele.
Na avaliação do grupo, o
humor está cada vez menos focado em fatos. Para a trupe, seja na política ou em
outras áreas, o humor tende a fazer abordagens mais genéricas na televisão,
seja aberta ou fechada, deixando as “piadas imediatas” para a internet. “E tem
pessoas que cobram isso”, afirma.
“Não há mais humor da
atualidade, de fatos, que era uma coisa que a gente fazia muito, a gente ia
muito direto em cima do que estava acontecendo. Se fala de política hoje, mas
não em cima do fato, em cima do que aconteceu, fala de uma forma mais geral,
isso mudou, não tem, pelo menos na TV aberta”, aponta.
FolhaPress
Foto reprodução internet
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