Segunda
feira, 13 de maio de 2019
A agricultora
Josinete da Silva Moraes ou simplesmente Neta de Ivan Lima, como é mais
conhecida, que reside no Sítio Jericó, zona rural de São Vicente do Seridó,
cidade localizada a região do Seridó paraibano, a 200 km da capital João
Pessoa, está na cidade de Curitiba – PR onde seu filho Ítalo, está fazendo
tratamento após ter feito transplante de medula óssea no dia 26 de abril.
O Jornal
Gazeta do Povo, de Curitiba em sua versão online, fez uma matéria contando um
pouco da história da mãe e do filho e o esforço que Neta tem feito para
aprender a ler para ajudar no tratamento do filho caçula.
Veja abaixo
na íntegra, a reportagem que fala sobre a família são vicentina:
"A grave
doença de um dos dois filhos levou a agricultora Josinete da Silva Moraes a
superar as maiores dificuldades de sua vida: a leucemia do caçula Italo
Gregório da Silva Lima, de 7 anos, e o analfabetismo. Por causa do tratamento
do menino, Josinete está aprendendo a ler aos 35 anos de idade no Hospital de
Clínicas (HC) de Curitiba, onde o menino se recupera do transplante de medula
óssea feito em 26 de abril.
Este domingo
(12) será especial para mãe e filho. Além da comemoração do Dia das Mães com
Josinete sabendo ler algumas palavras, o menino completa 8 anos.
Desde que
chegou à cidade, vinda da distante São Vicente do Seridó, no sertão da Paraíba,
a quase 2,5 mil quilômetros de Curitiba, Josinete passou a ser alfabetizada
justamente para poder medicar o filho quando deixar o hospital. Após passar por
uma semana de quimioterapia e o transplante, a previsão é de que Italo seja
liberado no prazo de um mês da ala de transplantes do HC. A partir daí, a
medicação do filho ficará por conta da mãe.
As aulas de
Josinete começaram há um mês, dentro do Programa de Escolarização Hospitalar do
HC, voltado para crianças internadas, o mesmo em que o menino está matriculado,
e que vai do ensino infantil ao fundamental em parceria com a prefeitura de
Curitiba. “Já junto as sílabas e estou conseguindo ler algumas palavras. Esses
dias consegui ler um texto”, conta a mãe, orgulhosa.
A
oportunidade de a agricultora ser alfabetizada apareceu quando chegou com o
filho a Curitiba para o tratamento antes do transplante. “A médica que atendia
o Italo no hospital notou que eu não entendia algumas coisas escritas que ela
me passava. Então, me apresentou o Programa de Escolarização Hospitalar”, conta
a agricultora. O próprio Italo também foi matriculado no programa assim que foi
internado no HC.
Por ser
paciente da ala de transplante de medula, o menino tem aulas particulares no
leito para evitar infecções. Sem cabelos por causa do tratamento e
impossibilitado de falar por causa dos efeitos colaterais da medicação, Italo
está se comunicando apenas por gestos.
Mãe e filho
têm aula com a professora Maria Elisa Bartosievicz no HC. “A Josinete é muito
dedicada. Presta atenção em tudo que eu passo e se esforça ao máximo para
entender”, elogia a professora.
Mesmo tendo
aulas juntos, os processos de escolarização de Josinete e Italo são diferentes.
Para ela, os exercícios são focados no principal motivo de a mãe ter iniciado a
alfabetização: os medicamentos do filho. Para que haja similaridade, a
professora tem montado tarefas com palavras parecidas com os nomes dos cinco
remédios que Italo terá de tomar após receber alta. “Eu monto exercícios com a
palavra flor, e destaco a primeira letra, que é a mesma do remédio Fluconazol”,
exemplifica a professora, citando um dos remédios utilizados para tratar
infecções prescrito em casos de transplantes de órgãos.
Dificuldades na cidade grande
Não é somente
para leitura dos medicamentos que a alfabetização vai servir para Josinete. Ela
sempre teve vontade de aprender a ler, mas, como trabalha na área rural e cuida
dos filhos, não teve oportunidade. “Para tudo eu tinha que pedir ajuda da minha
filha mais velha, de 13 anos, e do meu marido, que sabe ler um pouco”, explica.
A dificuldade
com a leitura veio mesmo quando chegou a Curitiba para o tratamento de Italo.
Hospedada na Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (APACN), no
bairro Tarumã, mãe e filho precisavam ir de ônibus para as consultas. “Cidade
grande é complicada. Eu precisava pegar ônibus, mas não conseguia ler o nome e saber
se era o certo. Nessas horas, procurava ajuda de quem estivesse por perto”,
relata a agricultora.
Agora que
está aprendendo a ler, Josinete não pretende mais parar os estudos. “Eu digo
para concluir o segundo grau. Ela tem muita capacidade para isso. Em apenas um
mês já está lendo textos”, afirma a professora Maria Elisa. Voltando para a
Paraíba, a agricultora pretende se matricular no ensino para adultos na escola
perto de onde mora.
Tratamento complexo
A mãe conta
que o filho sempre teve bom comportamento, inclusive ao longo de todo o
tratamento pesado, mas sentia falta da escola. “Ele sempre cooperou com os
tratamentos porque sabia que era para o bem dele. Mas quando via os amigos indo
à escola, me implorava para ir também. Isso foi muito difícil. Era de cortar o
coração”, emociona-se a mãe, que chega a chorar quando se lembra do pedido do
caçula.
Durante um
ano, Italo ficou indo e vindo de hospitais na Paraíba, aguardando um
transplante de medula. Foram os profissionais dos hospitais na Paraíba que
indicaram que ele fizesse o tratamento em Curitiba e que a família se
hospedasse na APACN. “Na vinda, minha filha e minha cunhada acompanharam a
gente. Mas quando descobrimos que minha menina não era compatível 100% para a
doação, as duas voltaram para São Vicente do Seridó e ficamos somente eu e
Italo aqui”, conta a mãe.
A doação da
medula veio de uma pessoa que não é da família. Em menos de um mês no HC, Italo
conseguiu o transplante. A previsão agora é de que em quatro meses o menino
volte para casa e possa não só brincar com os amigos, mas também comer seu
prato favorito, macarrão.
Escolarização hospitalar
No HC há dois
programas de escolarização que atendem crianças internadas, realizados em
parceria com as secretarias municipal e estadual de Educação. O Programa de
Escolarização Hospitalar vai do ensino infantil ao 5.° ano do ensino
fundamental em parceria com a prefeitura. Já o Serviço de Atendimento à Rede de
Escolarização Hospitalar (Sareh) vai do 6.° ano até o ensino médio em parceria
com o governo do estado.
Os programas
acompanham o aprendizado das crianças internadas no HC que não podem frequentar
a escola, além de realizar o processo pedagógico. “As aulas trazem vida a essas
crianças. No momento em que estão tendo aulas, esquecem que estão em um
hospital em meio a um tratamento médico. Isso melhora até a aceitação da sua
realidade, mudando o comportamento com o procedimento interno, como tomar
medicação”, explica a coordenadora do Comitê de Humanização, Regina Tanaka
Nunes."
Mellanie Anversa - Gazeta
do Povo
Foto: Aniele Nascimento
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