Segunda
feira, dia 15 de abril de 2019
Fonte de problemas para
o governo, o PSL passou a irritar o presidente Jair Bolsonaro que, em conversa
com líderes partidários na última semana, chegou a confidenciar o desejo de
deixar a sigla no futuro.
Bolsonaro se filiou ao
PSL em março do ano passado, para disputar a Presidência. Até então, era um
partido nanico, com apenas oito deputados, nenhum senador e pouca expressão
nacional. Na prática, o presidente “manda” na sigla, em acordo com seu
presidente, Luciano Bivar.
Mas a expansão do
partido sob Bolsonaro, com 54 deputados e 4 senadores, colocou o PSL nos
holofotes, e a sigla vive uma sucessão de problemas e conflitos internos. Na
conversa da semana passada, Bolsonaro afirmou que, se vier a disputar a
reeleição, deve ser por outro partido.
Com a eleição de 2022
distante e o governo ainda buscando deslanchar as reformas na pauta do
Congresso, as reclamações de Bolsonaro numa reunião com líderes do PR foram
entendidas pelos interlocutores mais como um desabafo do que como um plano na
iminência de se concretizar.
Leia Também: Wellington Roberto defende que PSL assuma
relatoria da Previdência
Estavam presentes na
conversa o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o líder do PR no Senado,
Jorginho Mello (SC), o senador Wellington Fagundes (MT), o líder do PR na
Câmara, Wellington Roberto (PB), e o ex-ministro de Dilma Rousseff Alfredo
Nascimento. O desabafo de Bolsonaro foi relatado ao GLOBO por dois
participantes do encontro que disseram que o presidente afirmou que “não dava
para continuar no partido” e que seria “muita confusão” para administrar.
Procurado para
esclarecer as declarações do presidente, o Planalto disse que não iria comentar
o assunto. Na reunião, Bolsonaro não teria detalhado a quais “confusões” se
referia. Desde que assumiu o cargo, o presidente teve que lidar com a
repercussão do escândalo de candidaturas laranjas, investigado pelo Ministério
Público. O episódio deixou em saia-justa o ministro do Turismo Marcelo Álvaro
Antônio e o ex-ministro Gustavo Bebbianno (Secretaria-Geral), ambos do PSL,
além de deixar em evidência o papel do presidente nacional da sigla, Luciano
Bivar, na distribuição suspeita de recursos do fundo eleitoral.
No fim de semana, o
jornal “Folha de S.Paulo” revelou que a deputada Alê Silva, também do PSL,
procurou a Polícia Federal para acusar o ministro do Turismo de tê-la a
ameaçado de morte, caso revelasse supostas informações desabonadoras contra ele
sobre o uso de candidatas laranjas na campanha. O episódio deve proporcionar
ainda mais munição à oposição nos próximos dias.
Além de ter demorado
para fechar questão a favor da reforma da Previdência, o PSL não consegue
reverter seu tamanho no Congresso em favor dos interesses do Planalto. Nas
últimas semanas, os ministros do governo foram atacados em comissões do
Parlamento sem que o partido se articulasse minimamente para defender os
auxiliares de Bolsonaro.
‘Pressão’
pela reeleição
Em menos de 100 dias de
governo, brigas entre parlamentares do partido viraram um assunto público,
causando constrangimento ao Planalto. Troca de ofensas em grupo do Whatsapp da
bancada da Câmara foram expostas e aprofundaram as divisões internas.
Na segunda-feira,
Bolsonaro prometeu que, caso seja candidato, fará diferente de outros políticos
brasileiros, cuja reeleição, segundo ele, acaba se tornando uma espécie de
“desgraça”, e que só se torna possível por meio de “acordos espúrios que levam
a escândalos de corrupção”.
— A pressão está muito
grande para que se eu estiver bem, que me candidate à reeleição — disse o
presidente, em entrevista à rádio Jovem Pan, no Palácio do Planalto.
Um dia depois, além de
abordar novamente o assunto, Bolsonaro e os dirigentes do PR conversaram sobre
a reforma da Previdência. Os convidados reconheceram a importância do tema.
Entretanto, parlamentares ouvidos pelo GLOBO disseram que não houve grande
avanço para que o partido pudesse aderir à base formal do governo. Segundo o
senador Wellington Fagundes, o partido se colocou à disposição para “ajudar o
país”.
— O partido se ofereceu
para ajudar, mas o governo também precisa fazer sua parte — disse o senador,
referindo-se a pontos polêmicos da reforma que sofrem resistência no Congresso.
Já o líder do PR na
Câmara, Wellington Roberto, disse que o ambiente da reunião já era previsível.
— Expectativa (sobre
base aliada) a gente não tinha nenhuma, porque já se sabia como foram as
conversas com os outros partidos — disse o deputado.
Fagundes ressaltou ainda
que “ficou clara” a intenção do governo de não ter uma base formal de apoio. E
que optou por “não seguir o modelo de coalizão”.
O Globo
Foto reprodução internet
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