Sexta feira,
24 de agosto de 2018
Apesar de proibido
na maior parte das salas de aula do país, o uso do celular em atividades
pedagógicas cresce ano a ano. Mais da metade dos professores dizem que utilizam
o celular para desenvolver atividades com os alunos, que podem ser desde
pesquisas durante as aulas, até o atendimento aos estudantes fora da escola. O
uso não se restringe aos docentes: mais da metade dos estudantes afirmam que
utilizaram o celular, a pedido dos professores, para fazer atividades
escolares.
A Pesquisa
sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras
(TIC Educação 2017), divulgada esta semana, mostra que o percentual de
professores que utilizam o celular para desenvolver atividades com os alunos
passou de 39% em 2015 para 56% em 2017. O aumento aconteceu tanto nas escolas
públicas, onde o percentual passou de 36% para 53%, quanto nas particulares,
crescendo de 46% para 69%.
Entre os alunos, o uso
também aumentou. Em 2016, quando a pergunta foi feita pela primeira vez, 52%
disseram já ter usado o aparelho para atividades escolares, a pedido dos
professores. No ano passado, esse índice passou para 54%. Entre os alunos de
escolas particulares, o percentual se manteve em 60%. Entre os das escolas
públicas, aumentou de 51% para 53%.
Segundo a coordenadora
da pesquisa, Daniela Costa, diante da falta de infraestrutura, sobretudo nas
escolas públicas, o celular tem sido um importante instrumento de acesso à
internet. Os dados mostram que 18% dos alunos usuários de internet utilizam
apenas o celular para acessar a rede nas escolas urbanas - nas escolas públicas,
esse índice é 22%, enquanto nas particulares, 2%. Metade dos estudantes de
escolas particulares disse ter acesso à internet na escola. Entre os estudantes
de escolas públicas, esse percentual é 37%.
“Mais de 90% das escolas
proíbem o uso de celular na sala de aula. Mas, ainda assim, como a internet
muitas vezes não funciona, sobretudo nas escolas públicas, utiliza-se o
celular”, afirma Daniela. “Quando pensamos em crianças e adolescentes que fazem
a tarefa só com celular, isso é complicado. Aqueles que têm acesso a mais
dispositivos possivelmente têm mais oportunidade de conhecimento e
aprendizagem”.
De acordo ainda com a
pesquisa, 48% dos professores deram aulas expositivas com o auxílio de
tecnologias e 48% solicitaram a realização de trabalhos por esses meios. Outros
40% solicitaram exercícios e 40%, trabalhos em grupos pela internet.
Nas escolas rurais, a
situação é mais complicada - 36% disseram ter acesso à internet e 48% afirmaram
que não há infraestrutura para acesso na região onde a escola está localizada.
Em relação ao celular, 48% das escolas usam celulares em atividades
administrativas, como acessar programas de gestão escolar ou mesmo para se
comunicar com a Secretaria de Educação local, sendo que 42% desses aparelhos
são pessoais e não custeados pelas escolas.
Na
sala de aula
No Centro de Ensino
Médio 01 do Paranoá, escola pública do Distrito Federal, os alunos não têm
acesso à internet na sala de aula e, de acordo com a orientadora educacional
Keila Isabel Ribeiro, a escola segue a Lei Distrital 4131/2008, que proíbe o
uso de celulares em sala tanto em escolas públicas quanto em escolas
particulares.
“A escola não oferece
internet para os alunos. Tem laboratório, mas é pequeno, não atende nem à
metade de um turma nossa, que tem de 45 a 47 alunos. O laboratório acaba sendo
usado pelo aluno que precisa fazer alguma pesquisa no turno contrário ao das
aulas e para fazer provas de dependência”, diz.
Keila observa que o
celular é proibido na sala de aula, mas que cada professor tem autonomia.
"Alguns são mais benevolentes, permitem o uso desde que não estejam dando
aula, por exemplo. E tem aqueles com tolerância zero".
A professora de redação
Veronica Araujo Leal, do Colégio Madre Carmen Salles, escola privada de
Brasília, defende que a internet ajuda no aprendizado, mas é preciso ter alguns
cuidados. “A gente leva à risca a proibição de uso de celular em sala de aula.
Eu mesma, no entanto, abro um parêntese para fazer pesquisa. Eu aviso aos
alunos para trazer os aparelhos e delimito um tempo para fazer pesquisa sobre
determinada temática”.
O uso, segundo Veronica,
é monitorado. “Eles são jovens, adolescentes, não podemos dar autonomia,
deixá-los livres, porque ao mesmo tempo em que estão pesquisando, estão
conversando na internet. Tem que verificar, passar entre as carteiras, é preciso
estar atento”.
Pesquisa
A pesquisa foi feita
pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do
Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
A coleta de dados em
escolas localizadas em áreas urbanas ocorreu entre os meses de agosto e
dezembro de 2017. Foram entrevistados presencialmente 957 diretores; 909
coordenadores pedagógicos; 1.810 professores de língua portuguesa, de
matemática e que lecionam múltiplas disciplinas (anos iniciais do ensino
fundamental); 10.866 alunos de 5º e 9º ano do ensino fundamental e 2º ano do
ensino médio.
A partir de 2017, a
pesquisa TIC Educação passou a coletar dados relativos a escolas localizadas em
áreas rurais. Foram entrevistados pelo telefone e presencialmente 1.481
diretores ou responsáveis pela escola.
Mariana Tokarnia - Agência
Brasil
Foto ilustrativa da
internet
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