Domingo, 29
de julho de 2018
De nove
vacinas prioritárias do calendário infantil, nenhuma atingiu a meta de 95% de
imunização no ano passado. A maior parte delas ficou, em média, na casa dos
70%. O dado explica um fenômeno que tem preocupado autoridades de saúde: a
volta de doenças consideradas controladas. Febre amarela, sarampo, difteria,
tétano, coqueluche e o risco da poliomielite mostram como o desleixo com a
vacinação trouxe para o Brasil enfermidades do passado, sinônimo de atraso.
No início do
século 20, as doenças imunopreveníveis, como poliomielite e varíola, eram
endêmicas no país. Elas causavam elevado número de casos e mortes. As ações de
imunização e, especialmente, os 44 anos de existência do Programa Nacional de
Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, foram responsáveis por mudar o
perfil epidemiológico das doenças imunopreveníveis. Essa é considerada uma
importante conquista da sociedade brasileira.
O presidente
do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP), Renato Kfouri, alerta que, em
mínimos descuidos, as doenças retornam. “A lição é que o relaxamento das ações
de imunização não é bom e tem seu preço. O controle e a eliminação das doenças
se mantêm com a vacinação contínua. É um equívoco acreditar que as doenças não
estão infectando porque deixaram de existir. Sem vacinação, os riscos de essas
doenças do passado voltarem são constantes”, pondera.
O Brasil já
vive problemas causados pelo abandono das vacinas. O sarampo voltou a infectar
dois anos depois de ser erradicado. A circulação do vírus na Venezuela, aliada
à baixa imunização no Brasil, desencadeou surto no Norte do país, sobretudo no
Amazonas e em Roraima. Ao todo, seis unidades da Federação registraram casos.
Quase mil pessoas adoeceram este ano. Além disso, a mortalidade infantil teve a
primeira alta em 26 anos. Desde 1990, isso não acontecia.
O risco de
contaminação subiu enquanto a parcela da população imunizada caiu. As vacinas
que protegem contra o mal tiveram queda. A tríplice viral passou de 96% de
cobertura da população em 2015, para 83,87% no ano passado. A tetraviral saiu
de 77,37% para 70,6% no mesmo período. O mesmo aconteceu com a poliomielite. A
cobertura caiu de 98,29% em 2015, para 84,43% em 2016. No ano passado, mais um
decréscimo: 77%.
Mas não para
por aí. O Brasil registrou um crescimento no número de casos de hepatite A em
2017, com 2.086 confirmados, contra 1.206 em 2016, um aumento de 73%. Entre
julho de 2017 e maio deste ano, o Ministério da Saúde confirmou 1.266 registros
de febre amarela no país e 415 mortes. Houve ainda 1.548 casos de coqueluche,
surtos de caxumba — a doença não é de notificação obrigatória, entre outros
males.
A presidente
da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, explica os riscos de
se boicotar as vacinas. “Não vacinar adolescente e adulto já é um risco. Deixar
de proteger as crianças é ainda maior. O perigo é ter de volta doenças que
estavam controladas, como o sarampo. O risco deixou de ser teórico e se tornou
realidade. Essas doenças, quando não matam, deixam sequelas graves. A pólio
deixou um sem-número de famílias que convivem com as sequelas da doença até
hoje”, ressalta.
O Ministério
da Saúde alerta que a vacinação é de extrema importância para evitar doenças e
suas sequelas (como surdez, cegueira, paralisia, problemas neurológicos, entre
outros) e, consequentemente, a morte, proporcionando qualidade de vida para
toda a população, além de evitar que doenças se propaguem. “No Brasil, ainda há
um desconhecimento individual sobre a importância e os benefícios das vacinas.
Em muitos casos, pais e responsáveis não vêm mais algumas doenças como um
risco, como é o exemplo da poliomielite. Por isso, é necessário ressaltar a
importância da imunização e desmistificar a ideia de que a vacinação traz
malefícios”, destaca o órgão, em nota.
Embora o
Brasil esteja livre da paralisia infantil, por exemplo, é fundamental a
continuidade da vacinação para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite
no país. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, três países ainda
são considerados endêmicos (Paquistão, Nigéria e Afeganistão). Com relação ao
sarampo, tem-se registro de casos em alguns países da Europa e das Américas,
inclusive na Venezuela, que faz fronteira com o Brasil. Atualmente, há registro
de casos em Roraima, Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo.
“Retrocessos”
Leonardo
Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, defende que
governo e sociedade civil se unam para combater o problema e evitar
retrocessos. “Temos que ter um conjunto de ações para recuperar a crença na
vacina. Tudo depende da informação correta. A primeira coisa a se falar é que
as vacinas são eficazes e importantes na prevenção de doenças graves”, conclui.
Pedro Luiz
Tauil, especialista em medicina tropical e controle de doenças da Universidade
de Brasília (UnB), avalia a necessidade de maior controle dos registros. “Temos
que ver como os estados estão notificando a vacinação. Isso é importante para
sabermos se houve uma redução ou se a notificação está ruim. Independentemente
disso, a vacina é a principal medida custo-benefício na prevenção de saúde.
Isso revolucionou o mundo. Eliminamos muitas doenças com as vacinas. A varíola
não existe mais por conta da vacina”, explica.
Eduardo
Espíndola, especialista em doenças infectocontagiosas, defende que essas
enfermidades são difíceis de combater, mas é possível fazer o controle. “Há
muitos anos não vemos casos de pólio. O sarampo estava erradicado. Já nos casos
de coqueluche, percebemos vacâncias na vacinação das mães e dos bebês. O mais
importante é fazer o monitoramento para ver a frequência. Manter um diagrama de
controle contínuo e não abrir mão das vacinas”, avalia.
Diário de
Pernambuco
Foto ilustrativa
da internet
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