Domingo, 29
de julho de 2018
Que atire a
primeira pedra quem nunca trocou mensagens enquanto o celular estava conectado
ao carregador. Que denuncie-se quem nunca falou ao telefone enquanto o mesmo
estava plugado à tomada. Muito provavelmente você já deitou na cama e usou seu
aparelho enquanto ele carregava. O que talvez você não saiba é que oito pessoas
já morreram apenas este ano em decorrência deste hábito tão comum entre os
brasileiros.
“O carregador
do celular é um conversor de energia. Ele converte os 220 volts que vêm da
tomada para o celular, que utiliza uma baixa tensão, de 5 volts, por exemplo.
Dentro dele tem um circuito eletrônico que realiza esse processo. Porém, quando
acontece algum problema nesse circuito, os 220 volts são transferidos
diretamente para o celular e consequentemente para o usuário”. Mas o que pode
causar uma falha no circuito eletrônico do celular?
Carregadores falsificados
Soa óbvio
dizer que produtos falsificados podem não funcionar adequadamente depois de
algum tempo, contudo, quando se trata de um carregador de celular, a atenção
precisa ser redobrada. Isso porque, na maioria dos casos de acidentes com
fontes de celular, os produtos não eram originais. “Para baratear custos, as
pessoas acabam utilizando equipamentos de qualidade secundária, que funcionam
só por determinado tempo e depois causam falhas. Então se o circuito parar de
funcionar, o acidente acontece”, disse o professor Euler.
Instalações elétricas precárias
O Brasil é
conhecido como o país das desigualdades e quando se trata de eletricidade, isso
não é diferente. Enquanto as modernas usinas hidrelétricas de Itaipu e Belo
Monte estão entre as maiores do mundo e chegam a produzir até 25.223 MegaWalts
de potência, muitas casas pelo Brasil não têm acesso à energia elétrica ou
dispõem de instalações elétricas precárias e irregulares.
Contudo, a
desigualdade não é o único agravante para a situação das instalações nas casas
tupiniquins; o perfil do brasileiro contribui para que acidentes aconteçam,
como explica o professor.
“O brasileiro tem perfil de ser
construtor, arquiteto e engenheiro, achando que é simples. A eletricidade não
tem cor, cheiro ou forma e isso passa uma sensação de segurança”
(Euler Macedo, professor da UFPB)
O perito do
Núcleo de Engenharia Forense do Instituto de Polícia Científica da Paraíba
(IPC-PB), Sérgio Maia, confirma a teoria do professor, afirmando que muitas
vezes o que causa a morte nos acidentes com celulares é justamente a instalação
elétrica das residências.
“Quando um
especialista avalia um acidente de eletroplessão com suspeita de ter sido
motivada pelo celular, antes de mais nada, ele analisa a instalação elétrica
residencial, que quase sempre figura como protagonista dos acidentes.
Instalações mal feitas ou com ausência de manutenção podem provocar fugas de
corrente para os equipamentos ou para suportes que conduzam a corrente, a
exemplo de mesas e estruturas metálicas”, explica o perito.
Chuva pode contribuir
Como
provavelmente você já sabe, a água e a eletricidade causam uma mistura ‘de
arrepiar os cabelos’. Dos oito casos de morte no ano de 2018, chovia em metade
dos ocorridos. O professor Euler explica que em casas mais simples e
construídas de maneira precária, as infiltrações podem fazer com que a água da
chuva chegue até as instalações elétricas e provoque os acidentes.
Um dos casos
de óbito envolveu o adolescente Douglas Raphael, de 14 anos, na cidade de
Garanhuns, em Pernambuco. A vítima havia acabado de sair do banho e entrou em
contato com o celular que carregava. Segundo o engenheiro Sérgio Maia, as
chances de sofrer um choque quando se está molhado aumenta até 100 vezes.
“A
resistência elétrica do corpo humano é de, aproximadamente, 100 mil Ohms. Se o
corpo humano estiver úmido, essa resistência pode ser reduzida 10 vezes, caindo
para 10 mil Ohms. Se estiver molhado, reduz em 100 vezes, caindo para 1 mil
Ohms”, explica.
De modo objetivo, se o corpo humano
estiver úmido, ele fica 10 vezes mais suscetível a um choque elétrico. Se
estiver molhado, as chances aumentam 100 vezes”
(Sérgio Maia, engenheiro perito do
IPC-PB)
Quem escapou, muda os hábitos
A estudante
Larissa Lira, de 26 anos, poderia ter entrado no infográfico (que está abaixo)
como mais uma vítima dos acidentes com celular, contudo, ela teve apenas
ferimentos leves após o celular explodir na cama. “O celular estava carregando
e eu estava mexendo nele, em cima da cama. Quando parei, deixei ele do meu lado
e ouvi um barulho de faísca. Quando toquei, ele estava tão quente que eu só
toquei e ele explodiu. Explodiu literalmente. A bateria do celular entrou no
meu colchão e queimou uma parte do travesseiro e minha mão”, relata Larissa.
A experiência
negativa serviu para alertar a estudante, que, hoje em dia, prefere não mexer
no celular enquanto ele está plugado à tomada. “O acidente me fez repensar.
Hoje em dia eu não o utilizo mais enquanto carrega. Se ele tivesse explodido
minutos antes poderia ter sido no meu rosto ou nas minhas mãos”, conclui.
Como se proteger?
O
especialista do IPC-PB, Sérgio Maia, orienta a população sobre a importância do
disjuntor residual, que pode evitar muitos acidentes. O aparelho, que deveria
existir em toda residência com fluxo de energia elétrica, suspende a
eletricidade impedindo a vítima de levar um choque.
“O principal
dispositivo de segurança para qualquer instalação elétrica é o disjuntor
diferencial residual (DR). O DR suspende o fornecimento de energia elétrica,
interrompendo o choque elétrico, com valores baixíssimos de fuga de corrente,
sem mencionar que sua atuação ocorre em fração de segundo, tornando-o bastante
eficiente. É tão instantâneo que a vítima mal percebe que sofreu uma
milionésima descarga elétrica, não sofrendo nenhuma consequência”, explica o
perito.
O infográfico
abaixo mostra detalhes dos casos de acidentes fatais envolvendo carregadores e
celulares. Em todos os casos, há algo em comum: famílias de baixa renda. Esse
fato apenas corrobora com as opiniões dos dois especialistas entrevistados
nesta reportagem. São necessárias, de maneira urgente, medidas públicas para
averiguar e fiscalizar as instalações elétricas das casas dos brasileiros. Do
contrário, mais mortes acontecerão. É preciso um ‘choque de realidade’ para que
a população tenha consciência dos perigos da eletricidade. A energia que dá luz
é a mesma que pode tirar a vida.
Portal
Correio
Foto
reprodução Portal Correio
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