Segunda feira, 05 de março de 2018
É debaixo de uma lona preta de pouco mais de dez metros
quadrados e chão de terra batida que Isabele Fernandes, de sete anos, estuda e
sonha em ser professora. Ele divide o mesmo espaço com outras 50 crianças que
ficaram fora da sala da aula depois que a Escola Municipal Maria Emília
Maracajá, onde elas estudavam, fechou as portas há pouco mais de um mês. A
unidade fica no sítio São José, Zona Rural do município de Areia, no Brejo
paraibano, a 130 km de João Pessoa. E a decisão é irrevogável, disse o prefeito
João Francisco, que já fechou mais de dez escolas em um ano de mandato.
A escola de lona erguida com bambus surgiu após três
professoras se solidarizarem com as crianças, que ficariam fora das salas de
aula. A iniciativa partiu da professora Fabiana Batista. Ela iniciou uma
campanha nas redes sociais e conseguiu, em pouco tempo, a ajuda para ‘abrir’ a
unidade em busca de um futuro melhor.
“Foram várias doações e ainda continuamos recebendo. Fiz
um apelo no Facebook que ganhou uma proporção grande. Conseguimos a lona,
material didático, cadeiras, mesas e comida para o lanche das crianças. Quando
os alunos querem ir ao banheiro, vamos até a casa de uma vizinha, que cedeu o
espaço. Infelizmente a escola fechou e o prefeito já disse que não vai
reabri-la. Os pais não querem que os seus filhos estudem longe das casas devido
à violência e outros fatores. Então, para as crianças não ficarem sem aula,
decidimos montar essa estrutura”, explicou a professora.
A agricultora Ana Karla, mãe de uma aluna, disse que essa
situação é triste. “Não temos condições de colocar nossos filhos em outra
escola. Sabemos a falta de estrutura das estradas, além do mais tem o problema
de adaptação. Vamos continuar aqui debaixo da lona até que essa situação tenha
um final feliz”, avisou.
Com a ajuda de Ana Karla e outras dezenas de pais, ao pôr
do sol, a escola é desmontada e cada um assume sua tarefa diária. “Todos os
dias, os pais vêm pegar os filhos e ajudam a carregar as cadeiras, mesas e o
material didático para um local cedido pela vizinha. Estamos sobrevivendo de
doações”, lamentou a professora Fabiana.
A escola foi fechada há um mês e, mesmo com o cadeado no
portão principal, uma antena de distribuição de internet foi instalada pela
prefeitura recentemente.
O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos
Municipais do Agreste da Borborema (Sintab), Geovanne Freire, revelou que a
entidade solicitou uma audiência com a Prefeitura de Areia, mas até agora não
obteve resposta. Freire disse que já acionou o Ministério Público da Paraíba
(MPPB) e o Ministério da Educação (MEC) sobre o fechamento das escolas na Zona
Rural do município.
“Está ocorrendo aqui o êxodo rural. O prefeito quer que
as crianças saiam do campo e vão estudar na Zona Urbana, fazendo com que elas
percam as suas identidades. Isso é um dos fatores que os pais não querem. Já
acionamos o MPPB e MEC para pedir explicação de por que mesmo com a escola
fechada a internet foi instalada recentemente e ainda as crianças constam como
matriculadas. Para o MEC, a unidade está em pleno funcionamento”, avisou o
vice-presidente.
O prefeito João Francisco falou à reportagem que há um
plano na administração dele que é acabar com o formato multisseriado, onde
crianças de diferentes séries estudam na mesma sala. Para o gestor esse método
de ensino é ‘indigno’ e ultrapassado.
“Essa metodologia está sendo extinta em vários
municípios. Temos um plano de encerrar com todas as escolas esse modelo de
ensino. Para isso, fornecemos ônibus com um monitor para o transporte das
crianças para uma escola que fica a pouco mais de dois quilômetros de onde
moram, mas os pais estão irredutíveis. Já acionei o MP sobre essa situação. Se
a justiça determinar que eu reabra, daí cumprirei a determinação judicial”,
falou o prefeito.
O gestor avisou que o fechamento das unidades em Areia
está embasado em orientações do MEC, Conselho de Educação da Paraíba e do
Município e atendendo a um requerimento dos vereadores locais.
O MPPB, através do promotor de Educação de Areia, Nilton
Chagas, já recebeu a denúncia sobre o caso e faz levantamento das informações
para marcar uma reunião.
Texto de
Hyldo Pereira, especial para o Portal Correio.
Portal Correio
Foto reprodução Portal
Correio
Veja mais notícias no www.saovicenteagora.com.br curta o Facebook AQUI siga o Twitter AQUI o canal do You Tube AQUI do São Vicente Agora e fique atualizado com as principais notícias do dia. Você também pode falar com a redação através do WhatsApp (83) 9 8105 2934
Veja mais notícias no www.saovicenteagora.com.br curta o Facebook AQUI siga o Twitter AQUI o canal do You Tube AQUI do São Vicente Agora e fique atualizado com as principais notícias do dia. Você também pode falar com a redação através do WhatsApp (83) 9 8105 2934
0 comentários:
Postar um comentário